Por Darllam Cruz
Todos sabem que a bissexualidade é o B da sigla LGBT, mas das
orientações sexuais minoritárias ela é a menos discutida e
problematizada, o que dá a ideia de que a comunidade bissexual é
escassa, desorganizada e virtualmente inexistente. Os preconceitos
enfrentados pelos bissexuais vêm tanto da sociedade como da própria
comunidade que os integra. Nos últimos tempos, instituições e grupos
voltados à causa bissexual travam uma cruzada científica e social para
provar que a bissexualidade é uma orientação tão comum e frequente
quanto as outras e que deve ser vista como tal. Entenda como a
invisibilidade imposta sobre o grupo influencia em sua realidade.
1. Apagamento bissexual e bifobia
Muita gente enxerga a bissexualidade como uma orientação conveniente e
inventada, usada por homens em negação quanto a sua homossexualidade e
por mulheres que só querem experimentar. Estudos levantados pelo American Institute of Bisexuality
demonstram que pessoas que se identificam como heterossexuais têm mais
atitudes negativas sobre bissexuais (especialmente homens bissexuais) do
que têm quanto a gays e lésbicas. Ou seja, héteros têm mais
preconceitos contra bis.
Mas a crítica não vem só dos leigos. Em entrevista para o jornal The New York Times,
um dos ativistas do AIB afirmou que, mesmo dentro da comunidade gay, os
bissexuais são ignorados, incompreendidos ou alvo de piadas. Membros do
AIB insistem que algumas das piores minimizações e discriminações vêm
de dentro da comunidade gay, alimentada pelos estereótipos de que
pessoas bissexuais estão mentindo para si mesmas e para os outros, estão
confusas e não merecem confiança.
Além desses fatores, muitos outros contribuem para a invisibilidade das pessoas bi. O instituto de pesquisas Bisexual Resource Center,
de Boston, enumera alguns deles: chamar bissexuais de “aliados”,
excluindo-os de uma comunidade que deveria integrá-los; o uso de
linguagem não-inclusiva, como casamento gay ou casal gay e casal
lésbico, mesmo quando um bissexual compõe o casal; rotular erroneamente
como gay, lésbicas ou heterossexuais pessoas que se declararam bi; ou
determinar a sexualidade da pessoa considerando apenas o sexo do seu
companheiro ou companheira.
2. Identidade X Comportamento
Além da invisibilidade e do preconceito, de acordo com a AIB, a
maioria dos bissexuais não sai do armário por estarem em relacionamentos
com alguém do sexo oposto e não são abertos sobre sua orientação. De
acordo com o terapeuta sexual Joe Kort, autor de um livro sobre homens
que se identificam como heterossexuais, são casados, mas também fazem
sexo com homens, muitos não contam a ninguém sobre suas experiências
bissexuais por medo de perder relacionamentos ou ter a “reputação
manchada”. Consequentemente, formam um grupo invisível.
Numa pesquisa realizada nos Estados Unidos em 2013, apenas 28% das
pessoas que se identificavam como bissexuais falaram que eram abertas
quanto à sua sexualidade. Devido a essa alta improbabilidade de sair do
armário, a Comissão de Direitos Humanos de São Francisco chamou os
bissexuais de “uma maioria invisível” que precisa de recursos e apoio.
Ativistas bissexuais da AIB acreditam que muito do que as pessoas
heterossexuais, lésbicas e gays acreditam sobre a bissexualidade está
errado e é distorcido por um parâmetro que se auto-reforça: por causa da
bifobia, muitos bissexuais não se assumem. Mas até mais gente bi ser
aberta quanto à sua orientação, os estereótipos e a desinformação no
coração da bifobia continuarão intactos.
3. Pesquisas científicas
O American Institute of Bisexuality foi fundado em 1998 por Fritz
Klein, um psiquiatra bissexual abastado que acredita nos valores
persuasivos de pesquisas acadêmicas e científicas. O instituto AIB se
dedica a financiar estudos e a ter ideias de como aumentar a
visibilidade bissexual em um mundo ainda não convencido da existência da
bissexualidade. Nos últimos anos, a AIB apoiou o trabalho de mais de 40
pesquisadores. As pesquisas lançam um olhar para o comportamento
bissexual e saúde mental, padrões de excitação sexual em homens
bissexuais e juventude bissexual.
Essas pesquisas foram uma resposta a pesquisas publicadas anteriormente por Michael Bailey, professor de psicologia que divulgou resultados que invalidavam a bissexualidade masculina.
A AIB convidou o próprio Bailey para conduzir novos estudos e aplacar
seu ceticismo. Os resultados surpreenderam o psicólogo: foi descoberto
que homens bissexuais de fato demonstram “padrões bissexuais de
excitação tanto subjetiva quanto genital”, contrariando os resultados
anteriores. Ou seja, os padrões de excitação dos homens selecionados
pela AIB para serem estudados batiam com a orientação que eles
professavam e a instituição, criticada por trabalhar com Bailey, conseguiu provar cientificamente a existência da bissexualidade.
4. Riscos de saúde
A marginalização e a discriminação que a comunidade bissexual sofre
na sociedade reflete também na saúde dos seus membros. O apagamento
bissexual leva muitas pessoas a evitarem exames ou a mentir sobre o
histórico sexual. Ainda de acordo com uma pesquisa realizada pelo
instituto de pesquisa Bisexual Resource Center, de Boston, os bissexuais
têm uma tendência a enfrentar maiores disparidades de saúde. Comparadas
a heterossexuais, lésbicas e gays, pessoas bissexuais têm maiores taxas
de ansiedade, depressão e outros distúrbios de comportamento, assim
como é maior a incidência do uso de tabaco. São maiores também as
chances de pessoas bissexuais contraírem infecções sexualmente
transmissíveis e os riscos de doença cardíaca e câncer quando comparadas
aos heterossexuais.
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