sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Por que o gato preto é considerado mau agouro?

Black_cat
A superstição teve origem na Idade Média, quando se acreditava que os felinos, devido a seus hábitos noturnos, tinham parte com o demônio - e se o bichano era da cor negra, habitualmente associada às trevas, pior ainda para ele. Assim, no imaginário medieval, o gato preto tornou-se tão inseparável da mítica figura da feiticeira quanto a vassoura voadora. No século XV, o papa Inocêncio VIII (1432-1492) chegou a incluir o pobre animal em sua lista de perseguidos pela Inquisição, campanha assassina da Igreja católica contra supostas heresias e bruxarias. A perseguição atingiu seu auge na Inglaterra do século XVI, época de repentino aumento da população felina nas cidades. Consta que, em certa noite de 1560, em Lincolnshire, um gato preto foi ferido a pedradas. Encurralado, ele refugiou-se na casa de uma velhinha que costumava dar abrigo a gatos de rua. No dia seguinte, essa pessoa também apareceu machucada - o que fez o povo local concluir que ela era uma bruxa e o gato, seu disfarce noturno.
Nessa tentativa de combater o paganismo, a Inquisição inverteu uma tradição milenar, pois os gatos eram reverenciados como divindades, principalmente entre os antigos egípcios. Na França, a perseguição aos gatos durou até 1630, quando foi proibida pelo rei Luís XIII (1601-1643). Há, no entanto, uma pesquisa do Hospital de Long Island, nos Estados Unidos, que indica que, pelo menos para pessoas alérgicas, o contato com um gato preto pode ter péssimos efeitos. Isso porque os pêlos felinos dessa cor conteriam uma maior quantidade de substâncias alergênicas.

O que são os Zumbis?

Todo mundo já ouviu falar em vodu, palavra que se tornou sinônimo de magia negra e bruxaria da pesada praticamente no mundo todo. Trata-se, na verdade, de um culto religioso praticado nas ilhas caribenhas chamadas Antilhas, principalmente o Haiti, baseado em rituais de possessão e com origem africana - obviamente, parente do candomblé brasileiro e da santería cubana. Para os adeptos do vodu, o zumbi seria como um morto-vivo, fabricado por feiticeiros ressuscitando um cadáver, para transformá-lo em um trabalhador braçal sem vontade própria - mais que um escravo, um autômato de carne. As figuras de zumbis tornaram-se parte do imaginário popular ao inspirarem dezenas de filmes de terror, como o clássico White Zombie, de 1932. Porém, o assunto foi estudado a sério por pelo menos um cientista, o antropólogo e etnobotânico canadense Wade Davis. No início da década de 80, ele passou uma temporada no Haiti, descrita em dois livros:
A Serpente e o Arco-Íris (1986), adaptado para o cinema por Wes Craven (famoso pela série A Hora do Pesadelo), e Passage of Darkness (1988, inédito no Brasil). Davis investigava a hipótese de os zumbis serem pessoas colocadas em estado de transe e catalepsia por meio de um veneno. Sua conclusão foi de que os sacerdotes usavam um pó à base de uma neurotoxina (substância danosa ao sistema nervoso) encontrada em peixes como o baiacu. A narrativa teve impacto imediato na comunidade científica, mas logo foi rejeitada pela maioria - especialmente por um químico japonês especialista em tetrodotoxina, a tal substância. Outros testes foram realizados na amostra do pó comprado de um sacerdote vodu pelo estudioso canadense, mas não se chegou a nenhum resultado definitivo.
A palavra "zumbi" é igualmente cercada de mistério, mas sua origem pode estar nos termos nzambi ou nzumbi, que, em alguns idiomas do oeste africano, significam "divindade" ou "espírito ancestral" - possivelmente a mesma raiz do nome do nosso Zumbi, líder dos escravos rebeldes do célebre Quilombo de Palmares, no Brasil Colonial do século XVII.

Os 15 exércitos mais poderosos do mundo

Guilherme Dearo, de EXAME.com

Os mais poderosos

São Paulo - Qual é o exército mais poderoso e bem preparado do mundo?
É isso o que tenta responder o Global Firepower Index, uma database  - atualizada continuamente - que reúne dados de 106 países.
Levando em conta 50 critérios, a pesquisa mais recente do site montou um ranking dos exércitos mais fortes.
Entre os critérios: orçamento, contingente e tamanho do arsenal.
Veja a seguir os 15 mais poderosos do mundo:
Tópicos: Aeronáutica, Ásia, China, Estados Unidos, Países ricos, Exército, Guerras, Marinha, Rankings, Listas, Europa, Rússia

Os 41 locais mais perigosos do planeta

Honduras

Violência

Atualmente, dezenas de países enfrentam situações de instabilidade. De olho nestas crises, o braço consular do Departamento de Estado dos EUA (U.S. Passports & International Travel) mantém em seu site uma lista atualizada na qual mostra quais locais do mundo apresentam os maiores perigos para suas populações e visitantes.
A relação é baseada em avisos e alertas de viagem emitidos pelo departamento sempre que uma ameaça - como a iminência de uma guerra civil, ondas de violência urbana ou frequentes ataques terroristas - é detectada naquele momento em determinado país. As informações são dedicadas aos cidadãos americanos, mas podem ser aproveitadas por diferentes viajantes, turistas ou não.
A lista atual conta com 41 lugares que foram incluídos primeira vez recentemente ou tiveram avisos anteriores atualizados nos últimos meses. A Ucrânia, que vive momentos de tensão com seus vizinhos russos, e o México, onde o governo há décadas luta contra o narcotráfico, são dois exemplos. Há ainda alertas para a região do Golfo do México e o Mar do Caribe por conta do início da temporada de furacões.
Tópicos: América Central, América Latina, Terrorismo, Ataques terroristas, Crise política, Ebola, Epidemias, Furacões, Oriente Médio, Pobreza, África, Ásia

O que muda se a reforma política ocorrer por referendo ou plebiscito?

  • 30 outubro 2014
Dilma quer consulta popular sobre reforma política, mas Câmara e Senado ainda divergem sobre tema
Para que a presidente reeleita, Dilma Rousseff, tenha êxito em sua principal proposta para seu segundo mandato, a aprovação de uma reforma política, ela terá de se entender com o Congresso quanto à melhor forma de consultar a sociedade no processo.
A proposta original de Dilma é pela convocação de um plebiscito para tratar do tema. Já os dirigentes da Câmara e do Senado preferem que os eleitores participem da reforma por meio de um referendo. A posição do Congresso nesse tema é crucial, já que cabe ao órgão decidir qual modelo será adotado.
Os pontos de vista distintos já provocam atritos entre as autoridades. Na terça-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que "o Congresso pagará caro pela omissão" se autorizar a convocação de um plebiscito, delegando aos eleitores o poder de definir os rumos da reforma.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), reforçou a posição de Renan e culpou o PT pela não aprovação de uma proposta de reforma no ano passado.
Também na terça, Dilma flexibilizou sua posição ao dizer em entrevista que "não interessa muito se é referendo ou plebiscito".
A BBC Brasil formulou perguntas sobre o que muda caso cada processo seja adotado.
Leia mais: Novos hábitos criam #eleiçãodaseleições 'permanente' e de repercussão inédita

Qual a diferença entre referendo e plebiscito?

A principal distinção é que um plebiscito é convocado antes da elaboração de um ato legislativo ou administrativo que trate do assunto em questão.
Já um referendo é convocado posteriormente, para que a população aprove ou rejeite a proposta já elaborada.

De que maneira essas diferenças influenciariam na reforma política?

Pela proposta de Dilma, um plebiscito sobre a reforma política permitiria aos brasileiros posicionar-se sobre vários temas. Eles poderiam, por exemplo, decidir se o financiamento das campanhas deve ser público, privado ou misto; se o voto deve ser nos partidos, em listas fechadas, ou em candidatos; se deve ser criada uma cláusula de barreira para impedir que partidos pequenos assumem lugares na Câmara; e se a reeleição deve ser proibida.
Dilma disse ter se reunido com diversos movimentos sociais e quer uma consulta popular sobre a reforma
Caberia ao Congresso decidir quais perguntas serão feitas e elaborar uma proposta que respeitasse os resultados da consulta. Esse modelo daria aos eleitores maior poder na elaboração da proposta.
No caso de um referendo, o Congresso elaboraria uma proposta de reforma, e os eleitores teriam apenas o poder de chancelar ou vetar o projeto como um todo, sem poder modificá-lo. Esse modelo daria ao Congresso mais poder na elaboração da proposta.

Quais os argumentos favoráveis e contrários aos dois modelos?

Defensores do plebiscito dizem que, se a elaboração da reforma ficar a cargo do Congresso, dificilmente serão aprovadas medidas que descontentem deputados e senadores. A reforma, dizem eles, provavelmente seria tímida.
Eles afirmam que um plebiscito atenderia os anseios dos manifestantes que foram às ruas em junho de 2013 e pediram maior participação da sociedade nas decisões do Estado.
Já os defensores do referendo dizem que um plebiscito teria perguntas muito específicas e que dificilmente os eleitores estarão informados o suficiente para respondê-las. Afirmam, ainda, que as opções dos eleitores poderiam produzir uma proposta "frankenstein", difícil de pôr em prática.
Eles dizem que o Congresso é o órgão mais capacitado para a tarefa e detém a legitimidade para executá-la, por ser composto por deputados e senadores eleitos pelo povo. Afirmam, ainda, que a realização de um plebiscito reduziria a importância do Legislativo, afetando o equilíbrio entre os Três Poderes.
Leia mais: Dilma 'terá que acenar à classe média', dizem analistas

Quais foram os últimos plebiscitos no Brasil?

O último plebiscito estadual ocorreu em 2011, no Pará, quando os eleitores do Estado decidiram se as regiões de Carajás e Tapajós deveriam se tornar Estados autônomos. A maioria dos paraenses rejeitou a divisão.
O último plebiscito nacional ocorreu em 1993, quando os brasileiros puderam optar qual regime de governo vigoraria no país: se monarquia ou república e se parlamentarismo ou presidencialismo. Venceu a proposta por uma república presidencialista, regime que já vigorava.

Quais foram os últimos referendos?

No último referendo estadual, em 2010, os eleitores do Acre decidiram se o fuso horário no Estado deveria ser voltar a ser de duas horas a menos que Brasília, após ter sido alterado para uma hora a menos. A maioria aprovou a mudança para o horário antigo.
O último referendo nacional ocorreu em 2005, quando a população foi consultada sobre a proibição do comércio de armas de fogo no país.
A proibição estava prevista em artigo do Estatuto do Desarmamento, que havia sido aprovado em 2003. Os brasileiros, porém, rejeitaram a mudança.

Sudeste pode 'aprender com Nordeste a lidar com seca'


Governo paulista foi autorizado a usar 100 bilhões de litros extras do volume morto do Sistema Cantareira
O presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, disse em entrevista à BBC Brasil que a atual crise hídrica em São Paulo e em outras cidades do Sudeste é uma "oportunidade" para esta região do país, que deveria se inspirar no exemplo do Nordeste para enfrentar o problema.
Segundo Braga, daqui em diante, o uso mais eficiente da água e o preparo para enfrentar períodos de estiagem se tornarão uma prioridade, assim como houve uma busca por eficiência energética e medidas capazes de evitar a falta de energia elétrica após os apagões do início da década passada.
"Em meio a essa crise no Sudeste, ninguém fala do Nordeste, que vive uma seca há três anos", destaca o hidrologista, que também é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
"Esta região aprendeu com as crises do passado e criaram uma infraestrutura para conseguir sobreviver a este momento díficil. O Ceará é um bom exemplo disso."

Tarifa exponencial

Braga também defende que haja uma mudança no atual modelo de cobrança de tarifas de consumo de água.
Para o especialista, somente um aumento exponencial do preço seria capaz de fazer consumidores usarem este recurso de forma racional.
O hidrologista defende que seja imposto um limite "razoável" de consumo para cada residência e que, a cada metro cúbico utilizado além dele, o valor da tarifa seja em primeiro lugar triplicado.
Caso seja ultrapassado um segundo patamar de consumo, o preço seria elevado em seis vezes, e assim por diante.
"A única forma de fazer as pessoas reduzirem seu consumo é gerar um impacto no bolso."
A Sabesp já aplica um aumento progressivo do valor da tarifa de acordo com o consumo.
A empresa cobra em São Paulo um preço fixo de R$ 16,82 pelo uso de até 10m³.
Entre 11m³ e 20m³, a tarifa por metro cúbico sobe 56%. Se forem usados entre 21m³ e 50m³, o preço sobe mais 149%. Acima disso, há um acréscimo de 10% no valor do metro cúbico.
"Minha proposta é que o valor seja triplicado após um limite razoável para cada residência. Depois, sextuplicado", afirma Braga.
"Quando o consumidor receber a conta, vai perceber que não tem como pagá-la e ai vai entender que há uma crise e economizar."

Aumento do consumo

Benedito Braga (ao centro) diz que situação permanecerá grave mesmo após o verão
A proposta de Braga ganha relevância diante de números divulgados na última terça-feira a investidores pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp).
Esses números mostram que, mesmo em meio a pior crise de água já registrada na região atendida pela empresa, quase um quarto das residências paulistas teve um aumento no consumo de água.
A porcentagem das casas com esse aumento ficou em 24% em maio, baixou para 21% em junho, subiu para 26% em julho e está em cerca de 22% em agosto, segundo dados parciais contabilizados até o último dia 11.
Os dados da Sabesp ainda mostram que um bônus oferecido a paulistas que reduzirem seu consumo de água em 20% não foi capaz de gerar uma grande economia de água.
Desde fevereiro, as residências que cumprem com esta redução ganham um desconto de 30% na conta no fim do mês.
Mas o consumo nas 43 cidades da região metropolitana de São Paulo terminou o primeiro semestre com um aumento de 1,1%. Isso ocorreu por causa de um aumento de 4% entre janeiro e março.
Já entre abril e junho, houve uma redução de 2%, o equivalente a 6 bilhões de litros, algo que a Sabesp considerou "significativo" diante do aumento de 5% nas ligações de água neste período.

'Falta de consciência'

Para Braga, isso é um sinal de que a população não está consciente da crise hídrica, "caso contrário não haveria aumento do consumo".
"A mídia fala muito da crise, mas, se não impactar no bolso do cidadão, ele acha que é assim mesmo e que não é uma situação tão grave assim, porque tem água na torneira", diz o especialista.
O governo estadual paulista chegou a anunciar em abril que iria cobrar uma multa de 30% pelo aumento do consumo de água. A medida veio após quedas sucessivas do nível do Sistema Cantareira (que abastece a Grande São Paulo) por causa de uma escassez de chuvas.
A multa seria aplicada a partir de maio, foi adiada para junho e nunca chegou a sair do papel.
O governador paulista Geraldo Alckmin desistiu da medida em julho por considerá-la desnecessária diante do aumento do número de consumidores que aderiram ao programa de bônus da Sabesp.
Ele disse que "91% da população aderiu ao uso racional da água. Quase 40% ganhou o bônus", disse o governador na época.
Segundo dados de agosto da Sabesp, 78% dos consumidores reduziram seu consumo até agora.
"A multa gera muita confusão porque seu processo legal é complicado e ela pode ser questionada pelo Ministério Público", diz Braga.
"O aumento exponencial da tarifa é possível porque é uma decisão que cabe exclusivamente à agência reguladora."

Volume morto

Diante da perspectiva de falta de chuva até novembro, o governo do estado já obteve autorização para captar uma segunda parte do volume morto, estimada em 100 bilhões de litros.
Braga considera a medida "absolutamente necessária porque não há como fazer uma previsão climatológica de longo prazo".
"É uma forma de se precaver em relação a verão menos chuvoso, porque nenhuma obra de infraestrutura para levar mais água para o Sistema Cantareira será concluída no curto prazo", diz Braga.
"Obras já são por si só algo demorado e isso se agrava no nosso país, porque temos uma legislação ambiental e de licitações altamente complexa, o que faz com que obras levem dez vezes mais tempo aqui do que na China, por exemplo."
O especialista acredita que a escassez recorde de chuvas entre o final de 2013 e o início deste ano dificilmente se repetirá, mas esclarece que isso não significa que a crise estará resolvida.
"As previsões do CPTEC (Centro de Estudos do Tempo e Estudos Climáticos, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia) indicam que teremos um verão normal. Se isso se confirmar, chegaremos nesta mesma época do ano que vem com o nível dos reservatórios em 30%", diz Braga.
"Isso é preocupante, porque ai dependeremos de novo da chuva, e não podemos ficar à mercê da chuva."

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Quem escreveu a Bíblia?


dezembro
2008

Quem escreveu a Bíblia?

A história de Deus foi escrita pelos homens. Mas quem é o autor do livro mais influente de todos os tempos? As respostas são surpreendentes - e vão mudar sua maneira de ver as Escrituras

por Texto José Francisco Botelho

Em algum lugar do Oriente Médio, por volta do século 10 a.C., uma pessoa decidiu escrever um livro. Pegou uma pena, nanquim e folhas de papiro (uma planta importada do Egito) e começou a contar uma história mágica, diferente de tudo o que já havia sido escrito. Era tão forte, mas tão forte, que virou uma obsessão. Durante os 1 000 anos seguintes, outras pessoas continuariam reescrevendo, rasurando e compilando aquele texto, que viria a se tornar o maior best seller de todos os tempos: a Bíblia. Ela apresentou uma teoria para o surgimento do homem, trouxe os fundamentos do judaísmo e do cristianismo, influenciou o surgimento do islã, mudou a história da arte – sem a Bíblia, não existiriam os afrescos de Michelangelo nem os quadros de Leonardo da Vinci – e nos legou noções básicas da vida moderna, como os direitos humanos e o livre-arbítrio. Mas quem escreveu, afinal, o livro mais importante que a humanidade já viu? Quem eram e o que pensavam essas pessoas? Como criaram o enredo, e quem ditou a voz e o estilo de Deus? O que está na Bíblia deve ser levado ao pé da letra, o que até hoje provoca conflitos armados? A resposta tradicional você já conhece: segundo a tradição judaico-cristã, o autor da Bíblia é o próprio Todo-Poderoso. E ponto final. Mas a verdade é um pouco mais complexa que isso.
A própria Igreja admite que a revelação divina só veio até nós por meio de mãos humanas. A palavra do Senhor é sagrada, mas foi escrita por reles mortais. Como não sobraram vestígios nem evidências concretas da maioria deles, a chave para encontrá-los está na própria Bíblia. Mas ela não é um simples livro: imagine as Escrituras como uma biblioteca inteira, que guarda textos montados pelo tempo, pela história e pela fé. Aliás, o termo “Bíblia”, que usamos no singular, vem do plural grego ta biblia ta hagia – “os livros sagrados”. A tradição religiosa sempre sustentou que cada livro bíblico foi escrito por um autor claramente identificável. Os 5 primeiros livros do Antigo Testamento (que no judaísmo se chamam Torá e no catolicismo Pentateuco) teriam sido escritos pelo profeta Moisés por volta de 1200 a.C. Os Salmos seriam obra do rei Davi, o autor de Juízes seria o profeta Samuel, e assim por diante. Hoje, a maioria dos estudiosos acredita que os livros sagrados foram um trabalho coletivo. E há uma boa explicação para isso.
As histórias da Bíblia derivam de lendas surgidas na chamada Terra de Canaã, que hoje corresponde a Líbano, Palestina, Israel e pedaços da Jordânia, do Egito e da Síria. Durante séculos acreditou-se que Canaã fora dominada pelos hebreus. Mas descobertas recentes da arqueologia revelam que, na maior parte do tempo, Canaã não foi um Estado, mas uma terra sem fronteiras habitada por diversos povos – os hebreus eram apenas uma entre muitas tribos que andavam por ali. Por isso, sua cultura e seus escritos foram fortemente influenciadas por vizinhos como os cananeus, que viviam ali desde o ano 5000 a.C. E eles não foram os únicos a influenciar as histórias do livro sagrado.
As raízes da árvore bíblica também remontam aos sumérios, antigos habitantes do atual Iraque, que no 3o milênio a.C. escreveram a Epopéia de Gilgamesh. Essa história, protagonizada pelo semideus Gilgamesh, menciona uma enchente que devasta o mundo (e da qual algumas pessoas se salvam construindo um barco). Notou semelhanças com a Bíblia e seus textos sobre o dilúvio, a arca de Noé, o fato de Cristo ser humano e divino ao mesmo tempo? Não é mera coincidência. “A Bíblia era uma obra aberta, com influências de muitas culturas”, afirma o especialista em história antiga Anderson Zalewsky Vargas, da UFRGS.
Foi entre os séculos 10 e 9 a.C. que os escritores hebreus começaram a colocar essa sopa multicultural no papel. Isso aconteceu após o reinado de Davi, que teria unificado as tribos hebraicas num pequeno e frágil reino por volta do ano 1000 a.C. A primeira versão das Escrituras foi redigida nessa época e corresponde à maior parte do que hoje são o Gênesis e o Êxodo. Nesses livros, o tema principal é a relação passional (e às vezes conflituosa) entre Deus e os homens. Só que, logo no começo da Beeblia, já existiu uma divergência sobre o papel do homem e do Senhor na história toda. Isso porque o personagem principal, Deus, é tratado por dois nomes diferentes.
Em alguns trechos ele é chamado pelo nome próprio, Yahweh – traduzido em português como Javé ou Jeová. É um tratamento informal, como se o autor fosse íntimo de Deus. Em outros pontos, o Todo-Poderoso é chamado de Elohim, um título respeitoso e distante (que pode ser traduzido simplesmente como “Deus”). Como se explica isso? Para os fundamentalistas, não tem conversa: Moisés escreveu tudo sozinho e usou os dois nomes simplesmente porque quis. Só que um trecho desse texto narra a morte do próprio Moisés. Isso indica que ele não é o único autor. Os historiadores e a maioria dos religiosos aceitam outra teoria: esses textos tiveram pelo menos outros dois editores.
Acredita-se que os trechos que falam de Javé sejam os mais antigos, escritos numa época em que a religiosidade era menos formal. Eles contêm uma passagem reveladora: antes da criação do mundo, “Yahweh não derramara chuva sobre a terra, e nem havia homem para lavrar o solo”. Essa frase, “não havia homem para lavrar o solo”, indica que, na primeira versão da Bíblia, o homem não era apenas mais uma criação de Deus – ele desempenha um papel ativo e fundamental na história toda. “Nesse relato, o homem é co-criador do mundo”, diz o teólogo Humberto Gonçalves, do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos, no Rio Grande do Sul.
Pelo nome que usa para se referir a Deus (Javé), o autor desses trechos foi apelidado de Javista. Já o outro autor, que teria vivido por volta de 850 a.C., é apelidado de Eloísta. Mais sisudo e religioso, ele compôs uma narrativa bastante diferente. Ao contrário do Deus-Javé, que fez o mundo num único dia, o Deus-Elohim levou 6 (e descansou no 7o). Nessa história, a criação é um ato exclusivo de Deus, e o homem surge apenas no 6o dia, junto aos animais.
Tempos mais tarde, os dois relatos foram misturados por editores anônimos – e a narrativa do Eloísta, mais comportada, foi parar no início das Escrituras. Começando por aquela frase incrivelmente simples e poderosa, notória até entre quem nunca leu a Bíblia: “E, no início, Deus criou o céu e a terra...”
Em 589 a.C., Jerusalém foi arrasada pelos babilônios, e grande parte da população foi aprisionada e levada para o atual Iraque. Décadas depois, os hebreus foram libertados por Ciro, senhor do Império Persa – um conquistador “esclarecido”, que tinha tolerância religiosa. Aos poucos, os hebreus retornaram a Canaã – mas com sua fé transformada. Agora os sacerdotes judaicos rejeitavam o politeísmo e diziam que Javé era o único e absoluto deus do Universo. “O monoteísmo pode ter surgido pelo contato com os persas – a religião deles, o masdeísmo, pregava a existência de um deus bondoso, Ahura Mazda, em constante combate contra um deus maligno, Arimã. Essa noção se reflete até na idéia cristã de um combate entre Deus e o Diabo”, afirma Zalewsky, da UFRGS.
A versão final do Pentateuco surgiu por volta de 389 a.C. Nessa época, um religioso chamado Esdras liderou um grupo de sacerdotes que mudaram radicalmente o judaísmo – a começar por suas escrituras. Eles editaram os livros anteriores e escreveram a maior parte dos livros Deuteronômio, Números, Levítico e também um dos pontos altos da Bíblia: os 10 Mandamentos. Além de afirmar o monoteísmo sem sombra de dúvidas (“amarás a Deus acima de todas as coisas” é o primeiro mandamento), a reforma conduzida por Esdras impunha leis religiosas bem rígidas, como a proibição do casamento entre hebreus e não-hebreus. Algumas das leis encontradas no Levítico se assemelham à ética moderna dos direitos humanos: “Se um estrangeiro vier morar convosco, não o maltrates. Ama-o como se fosse um de vós”.
Outras passagens, no entanto, descrevem um Senhor belicoso, vingativo e sanguinário, que ordena o extermínio de cidades inteiras – mulheres e crianças incluídas. “Se a religião prega a compaixão, por que os textos sagrados têm tanto ódio?”, pergunta a historiadora americana Karen Armstrong, autora de um novo e provocativo estudo sobre a Bíblia. Para os especialistas, a violência do Antigo Testamento é fruto dos séculos de guerras com os assírios e os babilônios. Os autores do livro sagrado foram influenciados por essa atmosfera de ódio, e daí surgiram as histórias em que Deus se mostra bastante violento e até cruel. Os redatores da Bíblia estavam extravasando sua angústia.
Por volta do ano 200 a.C., o cânone (conjunto de livros sagrados) hebraico já estava finalizado e começou a se alastrar pelo Oriente Médio. A primeira tradução completa do Antigo Testamento é dessa época. Ela foi feita a mando do rei Ptolomeu 2o em Alexandria, no Egito, grande centro cultural da época. Segundo uma lenda, essa tradução (de hebraico para grego) foi realizada por 72 sábios judeus. Por isso, o texto é conhecido como Septuaginta. Além da tradução grega, também surgiram versões do Antigo Testamento no idioma aramaico – que era uma espécie de língua franca do Oriente Médio naquela época.
Dois séculos mais tarde, a Bíblia em aramaico estava bombando: ela era a mais lida na Judéia, na Samária e na Galiléia (províncias que formam os atuais territórios de Israel e da Palestina). Foi aí que um jovem judeu, grande personagem desta história, começou a se destacar. Como Sócrates, Buda e outros pensadores que mudaram o mundo, Jesus de Nazaré nada deixou por escrito – os primeiros textos sobre ele foram produzidos décadas após sua morte.
E o cristianismo já nasceu perseguido: por se recusarem a cultuar os deuses oficiais, os cristãos eram considerados subversivos pelo Império Romano, que dominava boa parte do Oriente Médio desde o século 1 a.C. Foi nesse clima de medo que os cristãos passaram a colocar no papel as histórias de Jesus, que circulavam em aramaico e também em coiné – um dialeto grego falado pelos mais pobres. “Os cristãos queriam compreender suas origens e debater seus problemas de identidade”, diz o teólogo Paulo Nogueira, da Universidade Metodista de São Paulo. Para fazer isso, criaram um novo gênero literário: o evangelho. Esse termo, que vem do grego evangélion (“boa-nova”), é um tipo de narrativa religiosa contando os milagres, os ensinamentos e a vida do Messias.
A maioria dos evangelhos escritos nos séculos 1 e 2 desapareceu. Naquela época, um “livro” era um amontoado de papiros avulsos, enrolados em forma de pergaminho, podendo ser facilmente extraviados e perdidos. Mas alguns evangelhos foram copiados e recopiados à mão, por membros da Igreja. Até que, por volta do século 4, tomaram o formato de códice – um conjunto de folhas de couro encadernadas, ancestral do livro moderno. O problema é que, a essa altura do campeonato, gerações e gerações de copiadores já haviam introduzido alterações nos textos originais – seja por descuido, seja de propósito. “Muitos erros foram feitos nas cópias, erros que às vezes mudaram o sentido dos textos. Em certos casos, tais erros foram também propositais, de acordo com a teologia do escrivão”, afirma o padre e teólogo Luigi Schiavo, da Universidade Católica de Goiás. Quer ver um exemplo?
Sabe aquela famosa cena em que Jesus salva uma adúltera prestes a ser apedrejada? De acordo com especialistas, esse trecho foi inserido no Evangelho de João por algum escriba, por volta do século 3. Isso porque, na época, o cristianismo estava cortando seu cordão umbilical com o judaísmo. E apedrejar adúlteras é uma das leis que os sacerdotes-escritores judeus haviam colocado no Pentateuco. A introdução da cena em que Jesus salva a adúltera passa a idéia de que os ensinamentos de Cristo haviam superado a Torá – e, portanto, os cristãos já não precisavam respeitar ao pé da letra todos os ensinamentos judeus.
A julgar pelo último livro da Bíblia cristã, o Apocalipse (que descreve o fim do mundo), o receio de ter suas narrativas “editadas” era comum entre os autores do Novo Testamento. No versículo 18, lê-se uma terrível ameaça: “Se alguém fizer acréscimos às páginas deste livro, Deus o castigará com as pragas descritas aqui”. Essa ameaça reflete bem o clima dos primeiros séculos do cristianismo: uma verdadeira baderna teológica, com montes de seitas defendendo idéias diferentes sobre Deus e o Messias. A seita dos docetas, por exemplo, acreditava que Jesus não teve um corpo físico. Ele seria um espírito, e sua crucificação e morte não passariam – literalmente – de ilusão de ótica. Já os ebionistas acreditavam que Jesus não nascera Filho de Deus, mas fora adotado, já adulto, pelo Senhor. A primeira tentativa de organizar esse caos das Escrituras ocorreu por volta de 142 – e o responsável não foi um clérigo, mas um rico comerciante de navios chamado Marcião.
A Bíblia segundo Marcião
Ele nasceu na atual Turquia, foi para Roma, converteu-se ao cristianismo, virou um teólogo influente e resolveu montar sua própria seleção de textos sagrados. A Bíblia de Marcião era bem diferente da que conhecemos hoje. Isso porque ele simpatizava com uma seita cristã hoje desaparecida, o gnosticismo. Para os gnósticos, o Deus do Velho Testamento não era o mesmo que enviara Jesus – na verdade, as duas divindades seriam inimigas mortais. O Deus hebraico era monstruoso e sanguinário, e controlava apenas o mundo material. Já o universo espiritual seria dominado por um Deus bondoso, o pai de Jesus. A Bíblia editada por Marcião continha apenas o Evangelho de João, 11 cartas de Paulo e nenhuma página do Velho Testamento. Se as idéias de Marcião tivessem triunfado, hoje as histórias de Adão e Eva no paraíso, a arca de Noé e a travessia do mar Vermelho não fariam parte da cultura ocidental. Mas, por volta de 170, o gnosticismo foi declarado proibido pelas autoridades eclesiásticas, e o primeiro editor da Bíblia cristã acabou excomungado.
Roma, até então pior inimiga dos cristãos, ia se rendendo à nova fé. Em 313, o imperador romano Constantino se aliou à Igreja. Ele pretendia usar a força crescente da nova religião para fortalecer seu império. Para isso, no entanto, precisava de uma fé una e sólida. A pressão de Constantino levou os mais influentes bispos cristãos a se reunirem no Concílio de Nicéia, em 325, para colocar ordem na casa de Deus. Ali, surgiu o cânone do cristianismo – a lista oficial de livros que, segundo a Igreja, realmente haviam sido inspirados por Deus.
“A escolha também era política. Um grupo afirmou seu poder e autoridade sobre os outros”, diz o padre Luigi. Esse grupo era o dos cristãos apostólicos, que ganharam poder ao se aliar com o Império Romano. Os apostólicos eram, por assim dizer, o “partido do governo”. E por isso definiram o que iria entrar, ou ser eliminado, das Escrituras.
Eles escolheram os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João para representar a biografia oficial de Cristo, enquanto as invenções dos docetas, dos ebionistas e de outras seitas foram excluídas, e seus autores declarados hereges. Os textos excluídos do cânone ganharam o nome de “apócrifos” – palavra que vem do grego apocrypha, “o que foi ocultado”. A maioria dos apócrifos se perdeu – afinal de contas, os escribas da Igreja não estavam interessados em recopiá-los para a posteridade. Mas, com o surgimento da arqueologia, no século 19, pedaços desses textos foram encontrados nas areias do Oriente Médio. É o caso de um polêmico texto encontrado em 1886 no Egito. Ele é assinado por uma certa “Maria” que muitos acreditam ser a Madalena, discípula de Jesus, presente em vários trechos do Novo Testamento. O evangelho atribuído a ela é bem feminista: Madalena é descrita como uma figura tão importante quanto Pedro e os outros apóstolos. Nos primórdios do cristianismo, as mulheres eram aceitas no clero – e eram, inclusive, consideradas capazes de fazer profecias. Foi só no século 3 que o sacerdócio virou monopólio masculino, o que explicaria a censura da apóstola e seu testemunho. Aliás, tudo indica que Madalena não foi prostituta – idéia que teria surgido por um erro na interpretação do livro sagrado. No ano 591, o papa Gregório fez um sermão dizendo que Madalena e outra mulher, também citada nas Escrituras e essa sim ex-pecadora, na verdade seriam a mesma pessoa (em 1967, o Vaticano desfez o equívoco, limpando a reputação de Maria).
Na evolução da Bíblia, foram aparecendo vários trechos machistas – e suspeitos. É o caso de uma passagem atribuída ao apóstolo Paulo: “A mulher aprenda (...) com toda a sujeição. Não permito à mulher que ensine, nem que tenha domínio sobre o homem (...) porque Adão foi formado primeiro, e depois Eva”. É provável que Paulo jamais tenha escrito essas palavras – porque, na época em que ele viveu, o cristianismo não pregava a submissão da mulher. Acredita-se que essa parte tenha sido adicionada por algum escriba por volta do século 2.
Após a conversão do imperador Constantino, o eixo do cristianismo se deslocou do Oriente Médio para Roma. Só que, para completar a romanização da fé, faltava um passo: traduzir a palavra de Deus para o latim. A missão coube ao teólogo Eusebius Hyeronimus, que mais tarde viria a ser canonizado com o nome de são Jerônimo. Sob ordens do papa Damaso, ele viajou a Jerusalém em 406 para aprender hebraico e traduzir o Antigo e o Novo Testamento. Não foi nada fácil: o trabalho durou 17 anos.
Daí saiu a Vulgata, a Bíblia latina, que até hoje é o texto oficial da Igreja Católica. Essa é a Bíblia que todo mundo conhece. “A Vulgata foi o alicerce da Igreja no Ocidente”, explica o padre Luigi. Ela é tão influente, mas tão influente, que até seus erros de tradução se tornaram clássicos. Ao traduzir uma passagem do Êxodo que descreve o semblante do profeta Moisés, são Jerônimo escreveu em latim: cornuta esse facies sua, ou seja, “sua face tinha chifres”. Esse detalhe esquisito foi levado a sério por artistas como Michelangelo – sua famosa escultura representando Moisés, hoje exposta no Vaticano, está ornada com dois belos corninhos. Tudo porque Jerônimo tropeçou na palavra hebraica karan, que pode significar tanto “chifre” quanto “raio de luz”. A tradução correta está na Septuaginta: o profeta tinha o rosto iluminado, e não chifrudo. Apesar de erros como esse, a Vulgata reinou absoluta ao longo da Idade Média – durante séculos, não houve outras traduções.
O único jeito de disseminar o livro sagrado era copiá-lo à mão, tarefa realizada pelos monges copistas. Eles raramente saíam dos mosteiros e passavam a vida copiando e catalogando manuscritos antigos. Só que, às vezes, também se metiam a fazer o papel de autores.
Após a queda do Império Romano, grande parte da literatura da Antiguidade grega e romana se perdeu – foi graças ao trabalho dos monges copistas que livros como a Ilíada e a Odisséia chegaram até nós. Mas alguns deles eram meio malandros: costumavam interpolar textos nas Escrituras Sagradas para agradar a reis e imperadores. No século 15, por exemplo, monges espanhóis trocaram o termo “babilônios” por “infiéis” no texto do Antigo Testamento – um truque para atacar os muçulmanos, que disputavam com os espanhóis a posse da península Ibérica.
Escrituras em série
Tudo isso mudou após a invenção da imprensa, em 1455. Agora ninguém mais dependia dos copistas para multiplicar os exemplares da Bíblia. Por isso, o grande foco de mudanças no texto sagrado passou a ser outro: as traduções.Em 1522, o pastor Martinho Lutero usou a imprensa para divulgar em massa sua tradução da Bíblia, que tinha feito direto do hebraico e do grego para o alemão. Era a primeira vez que o texto sagrado era vertido numa língua moderna – e a nova versão trouxe várias mudanças, que provocavam a Igreja (veja quadro na pág. 65). Logo depois um britânico, William Tyndale, ousou traduzir a Bíblia para o inglês. No Novo Testamento, ele traduziu a palavra ecclesia por “congregação”, em vez de “igreja”, o termo preferido pelas traduções católicas. A mudança nessa palavrinha era um desafio ao poder dos papas: como era protestante, Tyndale tinha suas diferenças com a Igreja. Resultado? Ele foi queimado como herege em 1536. Mas até hoje seu trabalho é referência para as versões inglesas do livro sagrado.
A Bíblia chegou ao nosso idioma em 1753 – quando foi publicada sua primeira tradução completa para o português, feita pelo protestante João Ferreira de Almeida. Hoje, a tradução considerada oficial é a feita pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e lançada em 2001. Ela é considerada mais simples e coloquial que as traduções anteriores. De lá para cá, a Bíblia ganhou o mundo e as línguas. Já foi vertida para mais de 300 idiomas e continua um dos livros mais influentes do mundo: todos os anos, são publicadas 11 milhões de cópias do texto integral, e 14 milhões só do Novo Testamento.
Depois de tantos séculos de versões e contra-versões, ainda não há consenso sobre a forma certa de traduzi-la. Alguns buscam traduções mais próximas do sentido e da época original – como as passagens traduzidas do hebraico pelo lingüista David Rosenberg na obra O Livro de J, de 1990. Outros acham que a Bíblia deve ser modernizada para atrair leitores. O lingüista Eugene Nida, que verteu a Bíblia na década de 1960, chegou ao extremo de traduzir a palavra “sestércios”, a antiga moeda romana, por “dólares”. Em 2008, duas versões igualmente ousadas estão agitando as Escrituras: a Green Bible (“Bíblia Verde”, ainda sem versão em português), que destaca 1 000 passagens relacionadas à ecologia – como o momento em que Jó fala sobre os animais –, e a Bible Illuminated (‘Bíblia Iluminada”, em inglês), com design ultramoderno e fotos de celebridades como Nelson Mandela e Angelina Jolie.
A Bíblia se transforma, mas uma coisa não muda: cada pessoa, ou grupo de pessoas, a interpreta de uma maneira diferente – às vezes, com propósitos equivocados. Em pleno século 21, pastores fundamentalistas tentam proibir o ensino da Teoria da Evolução nas escolas dos EUA, sendo que a própria Igreja aceita as teorias de Darwin desde a década de 1950. Líderes como o pastor Jerry Falwell defendem o retorno da escravidão e o apedrejamento de adúlteros, e no Oriente Médio rabinos extremistas usam trechos da Torá para justificar a ocupação de terras árabes. Por quê? Porque está na Bíblia, dizem os radicais. Não é nada disso. Hoje, os principais estudiosos afirmam que a Bíblia não deve ser lida como um manual de regras literais – e sim como o relato da jornada, tortuosa e cheia de percalços, do ser humano em busca de Deus. Porque esse é, afinal, o verdadeiro sentido dessa árvore de histórias regada há 3 mil anos por centenas de mãos, cabeças e corações humanos: a crença num sentido transcendente da existência.

Top 5 pragas

I. Quando os hebreus eram escravos no Egito, o Senhor enviou 10 pragas contra os opressores do povo escolhido. A primeira delas foi transformar toda a água do país em sangue (Êxodo 7:21).
II. Como o faraó não libertava os hebreus, o Senhor radicalizou: matou, numa só noite, todos os primogênitos do Egito. “E houve grande clamor no país, pois não havia casa onde não houvesse um morto” (Êxodo 12:30).
III. Desgostoso com os pecados de Sodoma e Gomorra, Deus destruiu as duas cidades com uma chuvarada de fogo e enxofre (Gênesis 19:24).
IV. Para punir as deso­bediências do rei Davi, o Senhor enviou uma doença não identificada, que matou 70 mil homens e 200 mil mulheres e crianças (2 Samuel, 24: 1-13).
V. Quando a nação dos filisteus roubou a arca da Aliança, onde estavam guardados os 10 Mandamentos, o Senhor os castigou com um surto de hemorróidas letais. “Os intestinos lhes saíam para fora e apodreciam” (1 Samuel 5:9) .

Os possíveis autores

1200 a.C. - Moisés
Segundo uma lenda judaica, a Torá (obra precursora da Bíblia) teria sido escrita por ele. Mas há controvérsias, pois existe um trecho da Torá que diz: “Moisés morreu e foi sepultado pelo Senhor próximo a Fegor”. Ora, se Moisés é o autor do texto, como ele poderia ter relatado a própria morte?
1000 a.C. - Javista
Viveu na corte do rei Davi, no antigo reino de Israel, e era um aristocrata. Ou, quem sabe, uma aristocrata: para o crítico Harold Bloom, Javista era mulher. Isso porque os personagens femininos da Bíblia (Eva e Sara, por exemplo) são muito mais elaborados que os masculinos.
Século 4 a.C. - Esdras
Líder religioso que reformou o judaísmo e possível editor do Pentateuco (5 primeiros livros da Bíblia). Vários trechos bíblicos editados por ele pregam a violência: “Derrubareis todos os altares dos povos que ides expropriar, queimareis as casas, e mudareis os nomes desses lugares”.
Século 1 - Paulo
Nunca viu Cristo pessoalmente, mas foi o primeiro a escrever sobre ele. Nascido na Turquia, Paulo viajou e fundou igrejas pelo Oriente Médio. Ele escrevia cartas para essas igrejas, contando a incrível aventura de um tal Jesus – que foi crucificado e ressuscitou.
Século 1 - Maria Madalena
Estava entre os discípulos favoritos de Jesus – e, diferentemente do que o Vaticano sustentou durante séculos, nunca foi prostituta. Pelo contrário: tinha influência no cristianismo e é a suposta autora do Apócrifo de Maria, um livro em que fala sobre sua relação pessoal com Jesus e divulga os ensinamentos dele.
Século 1 - João
Escreveu o 4o evangelho do Novo Testamento (João) e o Livro do Apocalipse, o último da Bíblia. Para ele, Jesus não é apenas um messias – é um ser sobrenatural, a própria encarnação de Deus. Essa interpretação mística marca a ruptura definitiva entre judaísmo e fé cristã.
Século 5 - Jerônimo
Nascido no território da atual Hungria, este padre foi enviado a Jerusalém com uma missão importantíssima: traduzir a Bíblia do grego para o latim. Cometeu alguns erros, como dizer que o profeta Moisés tinha chifres (uma confusão com a palavra hebraica karan, que na verdade significa “raio de luz”).
Século 16 - William Tyndale
Possuir trechos da Bíblia em qualquer idioma que não fosse o latim era crime. O professor Tyndale não quis nem saber, traduziu tudo para o inglês, e acabou na fogueira. Mas seu trabalho foi incrivelmente influente: é a base da chamada “Bíblia do Rei James”, até hoje a tradução mais lida nos países de língua inglesa.

Top 5 matanças

I. Um grupo de meninos malcriados zombou da calvície do profeta Eliseu. Pra quê! Na hora, dois ursos famintos saíram de um bosque e comeram as crianças (2 Reis 2:24).
II. Cercado por um exército de filisteus, o herói Sansão apanhou a mandíbula de um jumento morto. Usando o osso como arma, ele massacrou mil inimigos (Juízes, 15:16).
III. O profeta Elias convidou os sacerdotes do deus Baal para uma competição de orações. Era uma armadilha: Elias incitou o povo, que linchou os pagãos (1 Reis 18:40).
VI. Os judeus haviam perdido a fé e começaram a adorar um bezerro de ouro. Moisés ficou furioso e mandou sacerdotes levitas matar 3 mil infiéis (Êxodo 32:19).
V. A nação dos amalequitas disputava o território de Canaã com os judeus. O Senhor ordena que todos os amalequitas sejam chacinados (1 Samuel 15:18).

Top 5 satanagens

I. Após a destruição de Sodoma, os únicos sobreviventes eram Ló e suas duas filhas. As filhas de Lot embebedaram o pai e tiveram com ele a noite mais incestuosa da Bíblia (Gênesis 19:31).
II. O Cântico dos Cânticos, atribuído ao rei Salomão, é altamente erótico. Um dos trechos: “Teu corpo é como a palmeira, e teus seios, como cachos de uvas” (Cânticos 7:7).
III. Os anjos do Senhor tiveram chamegos ilícitos com mulheres mortais. “Vendo os Filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram-nas como mulheres, tantas quanto desejaram” (Gênesis 6:2).
IV. A Bíblia diz que os antigos egípcios eram muito bem-dotados. Após a fuga para Canaã, a judia Ooliba tem saudades dos tempos em que se prostituía no Egito. Tudo porque “seus amantes (...) ejaculavam como cavalos” (Ezequiel 23:20).
V. O hebreu Onã casou com a viúva de seu irmão, mas não conseguia fazer sexo com ela – preferia o prazer solitário. Do nome dele vem o termo “onanismo”, que significa masturbação (Gênesis 38:9).

As história da história

Como o livro sagrado evoluiu ao longo dos tempos
Tanach - Século 5 a.C.
É a Bíblia judaica, e tem 3 livros: Torá (palavra hebraica que significa “lei”), Nebiim (“profetas”) e Ketuvim (“escritos”). É parecida com a Bíblia atual, pois os católicos copiaram seus escritos. Contém as sementes do monoteísmo e da ética religiosa, mas também pregações de violência. A primeira das bíblias tem trechos ambíguos e misteriosos – algumas passagens dão a entender que Javé não é o único deus do Universo.
Septuaginta - Século 3 a.C.
O Oriente Médio era dominado pelos gregos e pelos macedônios. Muitos judeus viviam em cidades de cultura grega, como Alexandria, e desejavam adaptar sua religião aos novos tempos. Diz a lenda que Ptolomeu, rei do Egito, reuniu um grupo de 72 sábios judeus para traduzir a Tanach – e fizeram tudo em 72 dias. Por isso, o resultado é conhecido como Septuaginta. Inclui textos que não constam da Tanach.
Novo Testamento - Século 1
A língua do Antigo Testamento é o hebraico, mas o Novo Testamento foi escrito num dialeto grego chamado coiné. Contém os relatos sobre vida, milagres, morte e ressurreição de Jesus – os evangelhos. Em alguns trechos, vai deixando evidente a divergência entre cristianismo e judaísmo. É o caso, por exemplo, do Evangelho de João, em que Jesus é descrito como uma encarnação de Deus (coisa na qual os judeus não acreditavam).
Católica - Século 4
Seus autores decidiram incluir 7 livros que os judeus não reconheciam. São os chamados Deuterocanônicos: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, Macabeus 1 e 2 (mais trechos dos livros Daniel e Ester). A Bíblia católica bate na tecla do monoteísmo: a palavra hebraica Elohim, usada na Tanach para designar a divindade, é o plural de El, um deus cananeu. Mas foi traduzida no singular e virou “Senhor”.
Ortodoxa - Por volta do século 4
É baseada na Septuaginta, mas também inclui livros considerados apócrifos por católicos e protestantes: Esdras 1, Macabeus 3 e 4 e o Salmo 151. A tradução é mais exata (nesta Bíblia, Moisés nunca teve chifres, um erro de tradução introduzido pela Bíblia latina), e os escritos não são levados ao pé da letra: para os ortodoxos, o que conta são as interpretações do texto bíblico, feitas por teólogos ao longo dos séculos.
Protestante - Século 16
Ao traduzir a Bíblia para o alemão, Martinho Lutero excluiu os livros Deuterocanônicos e mudou algumas coisas. Um exemplo é a palavra grega metanoia, que na Bíblia católica significa “fazer penitência” – uma referência à confissão dos pecados, um dos sacramentos católicos. Já Lutero traduziu metanoia como “reviravolta”. Para ele, confessar os pecados era inútil. O importante era transformar a vida pela fé.

Top 5 milagres

I. O maior de todos os milagres divinos foi o primeiro: a Criação do mundo, pelo poder da palavra. “E Deus disse: que haja luz. E houve luz” (Gênesis 1:3).
II. Para dar-lhe uma amostra de seus poderes, o Senhor leva Ezequiel a um campo cheio de esqueletos – e os traz de volta à vida. “O vento do Senhor soprou neles, e viveram” (Ezequiel, 37; 1-28).
III. Graças à benção divina, o herói Sansão tinha a força de muitos homens. Certa vez, foi atacado por um leão. “O espírito do Senhor deu-lhe poder, e Sansão destroçou a fera com as próprias mãos, como se matasse um cabrito” (Juízes 14:6).
IV. Josué liderava uma batalha contra os amalequitas, mas o Sol estava se pondo. Como não queria lutar no escuro, o hebreu pediu ajuda divina – e o Sol ficou no céu (Josué 10:13).
V. Para fugir do Egito, os hebreus precisavam atravessar o mar Vermelho. E não tinham navios. Moisés ergueu seu bastão e as águas do mar se dividiram. Após a passagem dos hebreus, o profeta deixou que as ondas se fechassem sobre os exércitos do faraó (Êxodo 14; 21-30).

Para saber mais

A Bíblia: Uma Biografia
Karen Armstrong, Jorge Zahar Editora, 2007.
Who Wrote the Bible?
Richard Elliott Friedman, HarperOne, 1997.

Como cai um avião


dezembro
2009

TECNOLOGIA

Como cai um avião

O avião é o meio de transporte mais seguro que existe. Mas algo sempre pode dar errado. Quais são os principais riscos de voar? E o que realmente pode acontecer durante um acidente?

por Bruno Garattoni e Sylvia Estrella

"Senhores passageiros, sejam bem-vindos. Em nome da SincereAir, a companhia aérea que só fala a verdade, peço sua atenção para algumas instruções de segurança. Primeiramente, gostaríamos de parabenizar os passageiros que estão sentados no fundo da aeronave - em caso de emergência, sua chance de sobreviver será bem maior. Durante a decolagem, o encosto de sua poltrona deverá ser mantido na posição vertical. Isso porque, em nossa nova e moderna frota de aeronaves, as poltronas da classe econômica são tão apertadas que impedem a evacuação da aeronave em caso de emergência. Na verdade, se a segurança fosse nossa maior prioridade, colocaríamos todos os assentos virados para trás. Metade do ar dentro da cabine é reciclado, o que nos ajuda a economizar combustível. Isso poderá reduzir a taxa de oxigênio no seu sangue, mas não costuma ser perigoso - e geralmente causa uma agradável sonolência. Mantenha o cinto de segurança afivelado durante todo o voo - ou você poderá ser vítima de turbulência, que é inofensiva para a aeronave, mas mata 25 passageiros por ano. Lembramos também que o assento de sua poltrona é flutuante. Não que isso tenha muita importância: a probabilidade de sobreviver a um pouso na água com um avião grande é mínima (geralmente a aeronave explode ao bater na água). Obrigada por terem escolhido a SincereAir, e tenham todos uma ótima viagem!"
Leia também: Como escolher seu assento no avião

Nenhuma empresa aérea revelaria verdades como essas. Afinal, mesmo que o avião seja o meio de transporte mais seguro que existe, ele não é (nada é) 100% seguro. A partir de uma série de estudos feitos por especialistas, chegamos às principais causas de acidentes - e descobrimos fatos surpreendentes sobre cada uma delas. Prepare-se para decolar (e cair).


Despressurização Quando as máscaras caem.

Quanto mais alto você está, mais rarefeito é o ar. Com menos resistência do ar, o avião consegue voar muito mais depressa - e gasta bem menos combustível. É por isso que os aviões comerciais voam bem alto, a 11 km de altura. O problema é que, nessa altitude, a pressão atmosférica é muito baixa (veja no infográfico abaixo). Não existe ar suficiente para respirar. Por isso, os aviões têm um sistema que comprime o ar atmosférico e joga dentro da cabine: a pressurização. É uma tecnologia consagrada, que estreou na aviação comercial em 1938 (com o Boeing 307). Mas, como tudo na vida, pode falhar. Sabe quando a aeromoça diz que "em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automaticamente"? Não assusta muito, né - parece bem menos grave do que uma pane na turbina do avião, por exemplo. Ledo engano. A despressurização pode matar, e rápido. Ao contrário do afogamento ou de outros tipos de sufocação, aos quais é possível resistir por alguns minutos, uma despressurização aguda faria você apagar em menos de 15 segundos. Em agosto de 2008, um Boeing 737 da companhia Ryanair, que ia para Barcelona, sofreu despressurização parcial da cabine. "Veio uma lufada de vento gelado e ficou incrivelmente frio. Parecia que alguém tinha aberto a porta do avião", contou um dos passageiros ao jornal inglês Daily Telegraph. Para piorar as coisas, nem todas as máscaras de oxigênio caíram automaticamente. E, das que caíram, várias não liberavam oxigênio. O que salvou os 168 passageiros é que o avião estava voando a 6,7 km de altura, mais baixo do que o normal, e isso permitiu que o piloto reduzisse rapidamente a altitude para 2,2 km, onde é possível respirar sem máscara.



Falha estrutural (ou como a força G pode despedaçar a aeronave). O avião pode perder uma asa, leme ou outra parte vital quando está no ar. Quase sempre, o motivo é manutenção malfeita - a estrutura acumula desgaste até quebrar. Mas isso também pode acontecer com aeronaves em perfeito estado. Se o piloto fizer certas manobras, gera forças gravitacionais muito fortes - e a fuselagem arrebenta. Foi o que aconteceu em 2001, com um Airbus A300 da American Airlines que decolou de Nova York. O piloto pegou turbulência, se assustou e tentou estabilizar a aeronave com movimentos normais, porém bruscos. O rabo do avião quebrou e o A300 caiu, matando 260 pessoas. Pode parecer um caso extremo, mas a resistência dos aviões à força G é uma preocupação central da indústria aeronáutica. Os jatos modernos têm sistemas que avisam quando estão voando com ângulo, velocidade ou trajetórias que possam colocar em risco a integridade da fuselagem. E a Boeing adiou o lançamento de seu novo avião, o 787, para alterar o projeto dele (simulações indicaram que, durante o voo, as asas poderiam sofrer forças G altas demais).



Pane nas turbinas Acontece. Mas não pelo que você pensa.

O maior inimigo das turbinas não são as falhas mecânicas; são os pássaros. Entre 1990 e 2007, houve mais de 12 mil colisões entre aves e aviões. As turbinas são projetadas para suportar alguns tipos de pássaro (veja abaixo), e isso é testado em laboratório com uma máquina, o "canhão de galinhas", que dispara frangos mortos contra as turbinas a 400 km/h. Desde 1990, 312 turbinas foram completamente destruídas em voo pelos pássaros. Se o avião perder um dos motores, consegue voar só com o outro. Mas, se isso acontecer durante a decolagem, quando a aeronave está baixa e lenta (90% dessas colisões acontecem a menos de 1 000 metros de altitude), ou se os pássaros destruírem ambas as turbinas, as consequências podem ser dramáticas. Como no incrível caso de um Airbus A320 da US Airways que perdeu os dois motores logo após decolar de Nova York, em janeiro de 2009. Mesmo sem nenhuma propulsão, o piloto conseguiu voar mais 6 minutos e levar o avião até o rio Hudson. Num dos raríssimos casos de pouso bem-sucedido na água, ninguém morreu.



Falha nos computadores Sim, eles também se enganam. E quando isso acontece...

Os computadores de bordo são vitais na segurança de voo. Mas também podem falhar. Como no caso do Airbus A330 - o mais computadorizado dos jatos atuais. Nos últimos 12 meses, sete A330 enfrentaram uma situação crítica: partes do computador de bordo desligaram ou apresentaram comportamento errôneo. Num desses casos, o desfecho foi dramático (o voo da Air France que ia de São Paulo para Paris e caiu no oceano Atlântico, matando 232 pessoas). Mas o problema não é exclusividade da Airbus. Em agosto de 2005, um Boeing 777 da Malaysia Airlines que decolou da Austrália teve de retornar às pressas depois que, aos 18 minutos de voo, o piloto automático começou a inclinar o avião de forma perigosa. Era um problema de software.



Erro humano Na maior parte das vezes, o piloto tem (alguma) culpa.

Os acidentes aéreos são uma sequência de erros que se somam. E, em 60% dos casos, essa equação inclui algum tipo de falha humana. A pior de todos os tempos aconteceu em 27 de março de 1977. Foi na ilha de Tenerife, um enclave espanhol a oeste da costa africana. Vários fatores se juntaram para produzir essa tragédia. Primeiro: um atentado terrorista fechou o principal aeroporto de lá e fez com que todo o tráfego aéreo fosse desviado para um aeroporto menor, Los Rodeos, que ficou sobrecarregado e cheio de aviões parados no pátio. Entre eles, dois Boeing 747. Um vinha de Amsterdã, o outro de Los Angeles. O avião americano solicitou autorização para decolar. Quem estava no comando era o piloto Victor Grubbs, 57 anos e 21 mil horas de voo. A torre de controle respondeu negando - era preciso esperar a saída do outro 747, o holandês, pilotado pelo comandante Jacob van Zanten. Zanten ficou impaciente, porque sua tripulação já estava em serviço havia 9 horas. A torre de controle reposicionou as ae­ronaves. O nevoeiro era muito forte e, por um erro de comunicação, o avião americano foi parar no lugar errado. Ignorando instruções, o 747 holandês começou o procedimento de decolagem. Ace­lerou e bateu com tudo no outro avião, que manobrava à frente. Foi o pior acidente da história, com 583 mortos.




Turbulência Como o avião pode perder a sustentação no ar.

Turbulência não derruba avião. Os jatos modernos são projetados para resistir a ela. Você já ouviu esse discurso? É uma meia-verdade. Um levantamento feito pela Federal Aviation Administration (FAA), agência do governo americano que estuda a segurança no ar, revela que entre 1992 e 2001 houve 115 acidentes fatais em que a turbulência esteve envolvida, deixando 251 mortos. Na maior parte dos casos, eram aviões pequenos, mas também houve mortes em aeronaves comerciais - as vítimas eram passageiros que estavam sem cinto de segurança, e por isso foram arremessados contra o teto a até 100 km/h (velocidade suficiente para causar fratura no pescoço). Ou seja: em caso de turbulência, o maior perigo não é o avião cair. É você se machucar porque está sem cinto. Os aviões têm instrumentos que permitem detectar com antecedência as zonas turbulentas, dando tempo para desviar, mas isso nem sempre é possível: existe um tipo de turbulência, a "de ar limpo", que não é captada pelos instrumentos da aeronave. Felizmente, é rara: só causou 2,88% dos acidentes fatais.


Veja também
Infográfico: O que acontece numa turbulência de avião


Pane hidráulica Existe um encanamento que corre por toda a fuselagem. Se ele furar, as consequências podem ser terríveis.

Os controles do avião dependem do sistema hidráulico - uma rede de canos que liga o cockpit às partes móveis do avião. Esses canos estão cheios de fluido hidráulico, uma espécie de óleo. Quando o piloto dá um comando (virar para a esquerda, por exemplo), um sistema de bombas comprime esse óleo - e o deslocamento do líquido movimenta as chamadas superfícies de controle. São as peças que controlam a trajetória do avião, como o leme e os flaps. O sistema hidráulico é tão importante, mas tão importante, que os aviões modernos têm nada menos do que três: um principal e dois de reserva. Por isso mesmo, a pane total é muito rara. Mas ela é o pior pesadelo dos pilotos. "O treinamento para situações de pane hidráulica é muito frequente e exige bastante dos pilotos", explica o comandante Leopoldo Lázaro. Se os 3 sistemas hidráulicos falharem, a aeronave perde totalmente o controle. E isso já aconteceu. Em julho de 1989, um McDonnell Douglas DC-10 decolou de Denver com destino a Chicago. Tudo corria bem até que a turbina superior, próxima à cauda do avião, explodiu. Estilhaços do motor penetraram na fuselagem e cortaram os canos de todos os sistemas hidráulicos. O avião não tinha como subir, descer, virar nem frear. Aí o comandante Alfred Haynes, 58 anos e 37 mil horas de voo, realizou uma das maiores proezas da história da aviação. Usando o único controle de potência das turbinas, o único que ainda funcionava no avião, conseguiu fazer um pouso de emergência. A aeronave explodiu, mas 185 dos 296 passageiros sobreviveram.


Um avião grande carrega 600 litros de fluido hidráulico, que se distribui por redes de canos.



Fonte - Boeing


Meses de risco Em quais épocas do ano acontecem mais acidentes*

Jan - 8,96%

Fev - 7,4%

Mar - 8,77%

Abr - 6%

Mai - 5,84%

Jun - 8,18%

Jul - 9,74%

Ago - 8,96%

Set - 9,55%

Out - 8,18%

Nov - 9,55%

Dez - 7,79%


* A soma não dá 100% devido a arredondamento.

Fonte - Aircraft Crashes Record Office 


As aeronaves que mais caíram
Em acidentes fatais por milhão de decolagens



Fonte - Boeing 

Para saber mais
Caixa Preta
Ivan Sant’Ana, Editora Objetiva, 2000.

O Rastro da Bruxa
Carlos Ari Germano, EDPUCRS, 2008.

Chocolate melhora a memória e combate a demência

29 de outubro de 2014
chocolate1
Uma deliciosa dica da ciência: comer chocolate diariamente pode melhorar sua memória – e combater a demência na velhice.
Pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, convidaram 37 pessoas, entre 50 e 69 anos, para ingerir uma quantidade diária de um dos componentes do cacau, o flavanol, por três meses. Metade recebeu uma concentração grande (900mg de flavanol), já a outra turma ganhou uma dose menor (10 mg). Enquanto tinham os cérebros escaneados, todos os participantes fizeram testes de memória, antes e depois dos 90 dias de dieta.
Após a ingestão diária de altas doses de flavanol, os participantes se saíam bem melhor nos jogos de memória. É que as atividades numa região específica do hipocampo (giro dentado), que tem um papel importante na memória, aumentaram nesse grupo de participantes. Ainda não se sabe as razões, mas o flavanol consegue melhorar as conexões nessa região do cérebro.
E os efeitos não são pequenos. “Se um participante tinha uma memória típica de alguém de 60 anos no começo do estudo, depois dos três meses, aquela pessoa conseguia alcançar a memória de um adulto de 30 ou 40 anos”, explica Scott Small, um dos autores da pesquisa.
O único problema é que uma barra normal de chocolate não tem uma quantidade tão grande assim de flavanol. Mas de pouquinho em pouquinho deve dar algum resultado.
Crédito da foto: flickr.com/elpatojo/

ILEGAL: primeiro filme da SUPER mostra a luta de pacientes pela legalização da maconha medicinal no Brasil

divulgacao
Talvez você já conheça Katiele Bortoli Fischer. Ela apareceu numa edição especial da SUPER em fevereiro, onde contou a história de sua filha Anny. A menina de 5 anos tem uma síndrome que desencadeia um tipo grave e incurável de epilepsia e, desde que nasceu, tinha crises frequentes de convulsões – eram até 80 por semana. O único remédio que ajudou a acabar com as crises de Anny foi o canabidiol (CBD), um componente extraído da maconha que não tem efeitos psicoativos. O problema é que a maconha é proibida no Brasil. Para tratar sua filha, Katiele teve que importar a planta do exterior. Tudo ilegalmente.
A história comovente de Anny foi tema de um curta-metragem, que estreou em março de 2014, e inspirou o Repense, campanha criada para incentivar o debate e espalhar informação sobre o uso medicinal de maconha no Brasil. Depois, o caso foi parar na TV, em programas como Fantástico e Encontro. Agora, Katiele e sua filha estão no cinema. ILEGAL, o primeiro longa-metragem da SUPER,  estreia no dia 9 de outubro em várias salas espalhadas por grandes cidades brasileiras. O filme dirigido por Raphael Erichsen e Tarso Araujo, autor da primeira reportagem da SUPER sobre Katiele, acende a discussão em torno do uso medicinal da maconha e aborda as dificuldades burocráticas e jurídicas pelas quais passam alguns pacientes que só encontraram na Cannabis a solução para seus problemas de saúde.

Leia também:
Portal Comunique-se: ‘Ilegal’: Documentário marca estreia da Superinteressante nos cinemas
Folha de S. Paulo: Maconha é tema de documentário sobre seu uso medicinal
Meio & Mensagem: Superinteressante estreia nos cinemas
Uma das bandeiras que o filme levanta é contra o preconceito e a desinformação, que normalmente atrasam o debate por aqui. Como se quem precisa da maconha medicinal já não enfrentasse obstáculos suficientes. Em teoria, no Brasil, para importar o CBD legalmente, seria preciso fazer uma solicitação à Anvisa, incluindo um laudo e parecer médico. Mas o médico que prescrever maconha no tratamento de um paciente pode até ter o registro profissional cassado pelo Conselho Federal de Medicina. Dá para imaginar a dificuldade que é encontrar uma brecha no sistema só para poder conseguir pedir a autorização. O processo é caro e, no final, a solicitação pode ser rejeitada.
No 4º Simpósio Internacional da Cannabis Medicinal, em maio desse ano, a Anvisa sinalizou que facilitaria um pouco o processo para os pacientes como Katiele, que dependem do CBD. A agência estudou tirá-lo da lista de substâncias proibidas e incluí-lo na lista de controlados. Mas isso ainda não aconteceu – e não há previsão se um dia vai acontecer. A desculpa é a falta de argumentos científicos que ajudem a comprovar os efeitos terapêuticos da substância.
Quem acompanha a luta pela legalização da maconha medicinal tem muitos motivos para torcer para que, logo, a situação mude no Brasil. “É impossível ver uma história como a de Katiele e não ficar do lado dela”, disse Tarso Araujo, numa entrevista ao Jornal Canábico, canal informativo de um site especializado no tema. Não conhece a luta de Katiele ou quer entender melhor o assunto antes de tirar suas próprias conclusões? Confira se ILEGAL vai passar na sua cidade:
Belém: Cinépolis Parque Belém
Belo Horizonte: Cine Belas Artes
Brasília: Espaço Itaú de Cinema
Campo Grande: Cinépolis Norte Sul Plaza
Curitiba: Cinépolis Pátio Batel e Espaço Itaú de Cinema
Florianópolis: Cinespaço Beiramar Shopping
Fortaleza: Cinema Dragão do Mar
Manaus: Cinépolis Ponta Negra
Natal: Cinépolis Natal Shopping
João Pessoa: Cinespaço Mag Shopping
Porto Alegre: Espaço Itaú de Cinema
Rio de Janeiro: Cinépolis Lagoon e Espaço Itaú de Cinema
Salvador: Cinépolis Bela Vista e Espaço Itaú de Cinema
São Luis: Cinépolis São Luis
São Paulo: Cinépolis JK Iguatemi e Espaço Itaú de Cinema (Frei Caneca, Pompeia e Augusta)
Santos: Cinespaço Miramar Shopping
Sorocaba: Cinespaço Villàggio Shopping
Acompanhe também a página oficial do filme ILEGAL no Facebook.

sábado, 25 de outubro de 2014

Revista Veja: Dilma e Lula sabiam de caso da Petrobras, diz doleiro Alberto Youssef

Revista Veja trouxe informações sobre depoimento de doleiro
A revista Veja divulgou, na noite de quinta-feira (23), a capa de sua próxima edição, que afirma que a presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento sobre os desvios de dinheiro realizados na Petrobras. A informação foi alegada pelo doleiro Alberto Youssef, caixa do esquema de corrupção, em depoimento dado, segundo a revista, à Polícia Federal e ao Ministério Público na terça-feira.
Youssef é apontado pela Polícia Federal como operador de um esquema de lavagem de dinheiro em diversos casos de corrupção, entre eles o da Petrobras. Ele está preso no Paraná desde que foi deflagrada a Operação Lava Jato, quando fez acordo de delação premiada com a Justiça.
Matéria da Veja é estratégia pró-Aécio, diz PT
Em entrevista ao Terra nesta noite, o presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, rechaçou a revista Veja e afirmou que a publicação é estratégia para impulsionar a campanha de Aécio Neves (PSDB), já que o País está a poucos dias do 2º turno da eleição presidencial - Dilma e Aécio estão na disputa. Emidio falou durante ato de eleitores e militantes do PT na capital paulista.
“É um desserviço ao bom jornalismo e à democracia, uma revista querer, a 48h de uma eleição, trazer uma matéria deste naipe. É um desserviço, uma falta de imparcialidade, ou melhor, é uma parcialidade total na disputa eleitoral. Eu acho que a Veja perde um pouco mais do pouco que lhe resta de credibilidade”, disse o dirigente.
Sobre o conteúdo da reportagem, Emídio afirmou que o depoimento do doleiro Youssef não possui credibilidade. “Você vai acreditar em um cara que fala que o Lula e a Dilma sabiam? Que credibilidade tem esse elemento? Quando ele tratou disso com o Lula e a Dilma? Nunca. Nunca tratou de nada disso”.
“Isso é matéria tipicamente destinada a produzir efeitos eleitorais, mais nada. A campanha do PSDB tem tido muito ódio, e nós não vamos responder com isso. Não vamos responder com esse ódio, não vamos entrar neste jogo. Eles estão perdendo a guerra. Campanha de ódio, quem espalha, perde”, finalizou.


Na TV, Dilma anuncia que vai processar a Veja

Revista publicou que presidenta e Lula saberiam do escândalo da Petrobras, mas próprio advogado do autor da denúncia nega informação
por Redação — publicado 24/10/2014 13:58, última modificação 24/10/2014 14:40 
 

Botão Eleições 2014A presidenta e candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, anunciou em seu programa eleitoral, desta sexta-feira 24, que vai processar a revista Veja, publicação semanal da editora Abril, por publicar uma “falsa denúncia” na edição que chega hoje às bancas. Isso porque o periódico estampou em sua última capa antes do segundo turno a acusação de que o ex-presidente Lula e a presidenta saberiam do esquema de corrupção na Petrobras.  Para Dilma, a publicação “não apresentou nenhuma prova” e representa um “ato de terrorismo eleitoral”.
“Gostaria de encerrar minha campanha de outra forma, mas não posso me calar frente a esse ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja. Todos os eleitores sabem da campanha sistemática que a Veja move há anos contra Lula e contra mim, mas dessa vez ela excedeu todos os limites (...) ao insinuar que eu teria conhecimento prévio dos maus feitos na Petrobras. A Veja comete esta barbaridade contra mim e contra o presidente Lula sem apresentar a mínima prova. Isso é um absurdo, isso é um crime. Veja fracassará no intento criminoso, ela não ficará impune. A justiça livre desse país vai condená-la por esse crime”, afirmou a petista.
Dilma lembrou ainda que a Veja antecipou a distribuição da revista com a “intenção malévola de interferir de forma desonesta e desleal nos resultados das eleições”. Na reportagem, o periódico se baseia em uma suposta declaração que teria sido feita pelo doleiro Aberto Yousseff, em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público.
Procurado pelos jornais O Estado de S.Paulo e O Globo, contudo, o advogado do acusado negou que ele tenha afirmado isso. “Eu nunca ouvi nada que confirmasse isso [que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras]. Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele. Estou surpreso”, concluiu o próprio defensor de Yousseff, Antonio Figueiredo Basto.
Assista ao programa eleitoral na íntegra:
 

Aécio acusa PT de tentar censurar a revista Veja


Em rápido pronunciamento à imprensa, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, acusou o PT de tentar censurar a última edição da revista Veja, publicada nesta sexta-feira (24). O tucano fez apenas uma declaração sobre a reportagem de capa da revista Veja, que diz que o doleiro Alberto Youssef, preso desde março, afirmou que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (ambos do PT) tinham conhecimento do suposto esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.


"A denúncia é extremamente grave e tem que ser confirmada, mas é preciso que seja também apurada", afirmou o candidato tucano, que acusou o PT de tentar censurar a publicação. "O Brasil merece uma resposta daqueles que governam o País. Infelizmente, a única manifestação foi pela censura, pela retirada de circulação da maior revista nacional. Essa não é, certamente, a resposta que os brasileiros aguardam".

O candidato tucano recusou-se a responder a perguntas de jornalistas, ao contrário do que tem feito diariamente durante a campanha, quando grava depoimentos para emissoras de TV. "Hoje não vou dar entrevista. Vou fazer apenas uma declaração em razão da relevância do tema", disse em uma sala do Hotel Sheraton, no Leblon, zona sul do Rio, onde passou o dia se preparando para o debate desta noite na TV Globo.

Aécio disse que a reportagem relata "supostos desvios" e que a delação premiada "assegura benefícios a quem a faz apenas se ela vier assegurada de comprovações das denúncias", mas afirmou: "Determinei ao PSDB que ingresse hoje na Procuradoria Geral da República solicitando que essas investigações sejam aprofundadas em razão da sua gravidade, chamando a atenção para uma parte do depoimento do senhor Youssef que diz que um dos coordenadores da campanha do PT solicitava que fossem repatriados, portanto que retornassem ao Brasil, US$ 20 milhões para a atual campanha eleitoral. Se comprovado isso, é a confirmação de que houve operação de caixa 2 na atual campanha presidencial do PT".

Ele afirmou que o PSDB vai acompanhar o desenrolar das investigações e que, se eleito, "elas serão ainda mais aprofundadas".

Liminar do TSE proíbe revista 'Veja' de fazer publicidade de capa

Para ministro, os contornos de propaganda eleitoral contidos na divulgação da revista 'Veja' interferem de forma indevida e grave em detrimento da candidatura da presidenta Dilma
por Redação da RBA publicado 25/10/2014 10:11
Comments
tse.jus.br
admar gonzaga
Gonzaga: "Propaganda eleitoral de conteúdo negativo poderá acarretar prejuízo irreparável à lisura do pleito”
São Paulo – O ministro Admar Gonzaga, do Superior Tribunal Eleitoral, concedeu na noite de ontem (24) liminar proibindo a Editora Abril, responsável pela publicação da revista Veja, de veicular publicidade da última edição em rádio, televisão, outdoor e propaganda paga na internet. A reportagem de capa afirma que a presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam conhecimento de esquema de corrupção da Petrobras.
"Tendo em vista que a Representada (revista Veja) antecipou em dois dias a publicidade da revista, entendo que a propagação da capa, ou do conteúdo em análise, poderá transformar a veiculação em verdadeiro panfletário de campanha, o que, a toda evidência, desborda do direito/dever de informação e da liberdade de expressão", diz o relatório de Gonzaga.
Segundo o documento, “a tentativa de interferência no curso das campanhas eleitorais, pela Representada poderá, inclusive, configurar a utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, apurável por meio de Ação de Investigação Judicial Eleitoral”.
Para o ministro, os contornos de propaganda eleitoral contidos na divulgação da revista Veja interferem de forma indevida e grave em detrimento da candidatura da presidenta Dilma Rousseff. “Considerando estarmos na antevéspera do pleito presidencial, a realização de propaganda eleitoral de conteúdo negativo poderá acarretar prejuízo irreparável ao equilíbrio e lisura do pleito.”
Para ele, a divulgação da capa da Veja, ou "de excertos do conteúdo da matéria, a título de publicidade comercial, caracteriza propaganda eleitoral com excepcional capacidade de influenciar a opinião dos eleitores, ainda que estes não sejam leitores daquele periódico".
Ainda ontem, o PT entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com pedido de abertura de inquérito criminal para investigar o vazamento do suposto depoimento no qual o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), liga a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula ao esquema de corrupção na Petrobras. Segundo o PT, a informação publicada pela Veja é "inverídica, difamatória e caluniosa”.
Na petição, os advogados também pedem acesso à integra do depoimento de delação premiada feito entre o doleiro, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal. "Deve-se destacar a necessidade de acesso imediato ao conteúdo do mencionado depoimento, visto que ampla divulgação de supostos fatos criminosos envolvendo a presidenta da República, exatamente às vésperas da eleição presidencial, sem que se possibilite um mínimo contraditório da imputada, o que pode influenciar o eleitorado  e abala a lisura do pleito", afirma a defesa do partido.
Mais cedo, o ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), negou pedido do partido para a  retirada da reportagem na página do Facebook da revista Veja.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ILEGAL: primeiro filme da SUPER mostra a luta de pacientes pela legalização da maconha medicinal no Brasil

divulgacao
Talvez você já conheça Katiele Bortoli Fischer. Ela apareceu numa edição especial da SUPER em fevereiro, onde contou a história de sua filha Anny. A menina de 5 anos tem uma síndrome que desencadeia um tipo grave e incurável de epilepsia e, desde que nasceu, tinha crises frequentes de convulsões – eram até 80 por semana. O único remédio que ajudou a acabar com as crises de Anny foi o canabidiol (CBD), um componente extraído da maconha que não tem efeitos psicoativos. O problema é que a maconha é proibida no Brasil. Para tratar sua filha, Katiele teve que importar a planta do exterior. Tudo ilegalmente.
A história comovente de Anny foi tema de um curta-metragem, que estreou em março de 2014, e inspirou o Repense, campanha criada para incentivar o debate e espalhar informação sobre o uso medicinal de maconha no Brasil. Depois, o caso foi parar na TV, em programas como Fantástico e Encontro. Agora, Katiele e sua filha estão no cinema. ILEGAL, o primeiro longa-metragem da SUPER,  estreia no dia 9 de outubro em várias salas espalhadas por grandes cidades brasileiras. O filme dirigido por Raphael Erichsen e Tarso Araujo, autor da primeira reportagem da SUPER sobre Katiele, acende a discussão em torno do uso medicinal da maconha e aborda as dificuldades burocráticas e jurídicas pelas quais passam alguns pacientes que só encontraram na Cannabis a solução para seus problemas de saúde.

Leia também:
Portal Comunique-se: ‘Ilegal’: Documentário marca estreia da Superinteressante nos cinemas
Folha de S. Paulo: Maconha é tema de documentário sobre seu uso medicinal
Meio & Mensagem: Superinteressante estreia nos cinemas
Uma das bandeiras que o filme levanta é contra o preconceito e a desinformação, que normalmente atrasam o debate por aqui. Como se quem precisa da maconha medicinal já não enfrentasse obstáculos suficientes. Em teoria, no Brasil, para importar o CBD legalmente, seria preciso fazer uma solicitação à Anvisa, incluindo um laudo e parecer médico. Mas o médico que prescrever maconha no tratamento de um paciente pode até ter o registro profissional cassado pelo Conselho Federal de Medicina. Dá para imaginar a dificuldade que é encontrar uma brecha no sistema só para poder conseguir pedir a autorização. O processo é caro e, no final, a solicitação pode ser rejeitada.
No 4º Simpósio Internacional da Cannabis Medicinal, em maio desse ano, a Anvisa sinalizou que facilitaria um pouco o processo para os pacientes como Katiele, que dependem do CBD. A agência estudou tirá-lo da lista de substâncias proibidas e incluí-lo na lista de controlados. Mas isso ainda não aconteceu – e não há previsão se um dia vai acontecer. A desculpa é a falta de argumentos científicos que ajudem a comprovar os efeitos terapêuticos da substância.
Quem acompanha a luta pela legalização da maconha medicinal tem muitos motivos para torcer para que, logo, a situação mude no Brasil. “É impossível ver uma história como a de Katiele e não ficar do lado dela”, disse Tarso Araujo, numa entrevista ao Jornal Canábico, canal informativo de um site especializado no tema. Não conhece a luta de Katiele ou quer entender melhor o assunto antes de tirar suas próprias conclusões? Confira se ILEGAL vai passar na sua cidade:
Belém: Cinépolis Parque Belém
Belo Horizonte: Cine Belas Artes
Brasília: Espaço Itaú de Cinema
Campo Grande: Cinépolis Norte Sul Plaza
Curitiba: Cinépolis Pátio Batel e Espaço Itaú de Cinema
Florianópolis: Cinespaço Beiramar Shopping
Fortaleza: Cinema Dragão do Mar
Manaus: Cinépolis Ponta Negra
Natal: Cinépolis Natal Shopping
João Pessoa: Cinespaço Mag Shopping
Porto Alegre: Espaço Itaú de Cinema
Rio de Janeiro: Cinépolis Lagoon e Espaço Itaú de Cinema
Salvador: Cinépolis Bela Vista e Espaço Itaú de Cinema
São Luis: Cinépolis São Luis
São Paulo: Cinépolis JK Iguatemi e Espaço Itaú de Cinema (Frei Caneca, Pompeia e Augusta)
Santos: Cinespaço Miramar Shopping
Sorocaba: Cinespaço Villàggio Shopping
Acompanhe também a página oficial do filme ILEGAL no Facebook.